Me
pego no desapego dos apegos cotidianos. Numa fração de segundos
levada para as memórias de infinitos tons que tendem a tornarem-se
amareladas. A nostalgia é manchada pelos tons amarelados. O colorido
é tão vivo quanto no momento que foi tingido. Mas talvez não mais
tão cintilante. Ou seu brilho seria distinto? A intensidade da
resplandência sujeita à ação do tempo. Do tempo – passagem e da
nossa disposição em ressignificar nossas lembranças.
O
compasso melancólico e as cores infindáveis e duradouras. Cores de
terra marrom, de terra vermelha desinibida1;
de azul claro, de azul escuro2,
de azul céu, de azul mar (tão querida Barra do Jucu3,
sua Genipabu4!);
de um verde tão mais tão vivo5,
de outro mais tímido; de lilás corajosa6,
de lilás protagonista; de arco-íris.
O
belo melancólico e os sussurros de muitas vidas. Escutas que não
seguiam a regra dos ponteiros. Conversas de cá, de lá, de
bastidores, de quartos. Conversas sérias atravessadas pelos choros.
As palavras davam lugar às lágrimas quando as saídas pareciam não
ter caminhos. Os minutos que Carmem chorou. Luis Duarte e eu
seguramos as mãos firmes7.
A
atrevida melancolia. Os clássicos portos. Carinhos, ninhos.
A
nostalgia irreverente espalhando alegrias. Mama Tica pedindo carona
numa BR no Espírito Santo; a carona solidária para toda a CN de um
vendedor de verduras numa estrada em Brazlândia (DF); o ônibus que
não subiu o Corcovado (RJ); jogo “queimador queimando” a cabeça
do Claudinei8;
o fusca na Rua do Jonson9;
a “brasília amarela de portas abertas” de Domingos Martins10
, o vídeo - game de corpo do Alex para quem não seguia a Avenida
Paulista11;
os intermináveis jogos de mistério do mestre Júlio; os “Eu
nunca”, “nós nuncas”.
O
descotentamento com o mundo para que a felicidade e a justiça flua
em todo o canto. Regado no tempo – utopia, no tempo – encontro,
no tempo – reflexão, no tempo – organização. Nossa opção com
quem é violentado e desunamizado diariamente. O indignar-se...
Pertencente à aqueles e aquelas com causa. Com fé. Cada uma. Cada
um de nós. “Yo
no nací sin causa, yo no nací sin fe. Mi corazón pega fuerte para
gritar a los que no siente y así perseguir a la felicidad”12.
O
desejo da dignidade rebelde permanece. E ganha outras ramificações.
Tantos
lembranças manifestadas nos registros concretos e abstratos,
pessoais e coletivos. Lembranças percorridas que ao encerrar um
ciclo, tornam-se apanhados ternuosos do meu tempo – serviço
nacional e essencias para que a Paulinha hoje esteja em estado
permamente de construção. Seja pintada diariamente de cores que
seguem o desritmo do amor. Paulinha, mistura do eu, do nós. Das
andanças. Movida pelo carinho e pela curiosidade. Da lei
natural dos encontros. E assim
sigo a canção da estrada “eu deixo e recebo um tanto”.
Pela, para a imensidão do Bem – Viver.
1
Chão vermelho de Brasília e do interior do Mato Grosso, em São
Felix do Araguaia.
2
As águas do Maranhão e do Pará.
3
A água nem tão fria da Praia de Vila Velha/ES. Julho de 2010.
4
Tarde de conversas com Thiesco e Robério em Natal/RN. Fevereiro de
2013.
5
Interior do Tocantins e do Maranhão.
6
As mulheres protagonistas que conheci e tanto admiro: Raquel,
Hildete, Alessandra, Elis, Roberta, Ângela, Carmem, Vanildes,
Deisy, Maicelma, Michelle, Aline, Josy, Jaque, Janaína, Ana Paula,
Dayane.
7
Imperatriz/ Maranhão. Outubro de 2010.
8
Marabá/Pará. Novembro de 2012.
9
Imperatriz/ Maranhão. Outubro de 2010.
10
Domingos Martins/ES. Julho de 2010.
11
São Paulo/SP. Abril de 2012.
12
“Un derecho de nascimiento” -
http://www.youtube.com/watch?v=JCWGOUlqq4k
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