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Correr o mundo, novamente.

Contar sua história, após nosso reencontro em janeiro na lua cheia, tem me aproximado do mistério da minha vida. Coleto os fatos, considero a intuição, vivo, mas suspeito. Suspeito porque estranho. Estranho porque não desejo naturalizar o que te matou no passado, o que nos matou. Não quero experimentar os gestos sutis que ferem a autonomia.

Acostumamos-nos a calar sobre aquilo que gera a ferida. Acostumamos-nos a aceitar pedradas como forma de receber flores em seguida. A autocensura seca nosso íntimo. Seca a abundância do universo em nós. Seca o que fomos, o que somos e o que ainda podemos ser. Estiagem de vida! E eu achando que você experimentava o amor…

Por isso há de atentar às previsões do tempo, às imprevisibilidades das estações.
Há verões, algum e acolá. Cuidado com os verões com jeitos de invernos! Há primaveras e essas… Ah estão tão espalhadas! São aquelas que renascem constantemente em mim, das formas mais imprevistas e inusitadas. São aquelas que também estão detalhadamente narradas na minha memória. É porque são passarinhos quem levam as sementes e sempre quis ser um. Você já era, sempre foi.

Retomei as primaveras em 2017. Retomei você - nós. Seu chamado. Correr o mundo, novamente. Uma re-transição para nosso estado de poesia.

Ilustração @
belensegarra

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