Não lembrava mais que você existia. Não que você estivesse ausente, porém o esquecimento havia tomado conta de mim. Te esqueci pois me furtaram. Embora, você sempre danada, deixava rastos. Não recordava dos teus sonhos, da tua curiosidade com o mundo. Aliás, quando você aparecia de vez em quando, acreditava que você tinha abandonado seus desejos penetrantes e oceânicos. Não conseguia compreender. Tristonha eu ficava. A apatia, da brancura mais pálida, invadia minha vida. Sem você não havia eu. Vagava por noites sem saber onde haviam te escondido. Te procurava, no choro manso, no mesmo choro de quando eu era criança. Me devolvam daquilo que sou feita. Até que um dia, aqueles sinais seus de vida foram a chave para nossa volta. Num cativeiro sujo e assombroso, localizado num atraente bosque, a encontrei, sugada e abatida. O que fizeram com você? O que fizeram conosco? O roubo era muito mais carrancudo do que imaginava. Nosso olhar cúmplice, esperançava mesmo ali, nosso reencontro. Decidida, a tirei desse lugar, tão deslumbrante por fora e assustador por dentro. Atravessamos o bosque, cruzamos o rio. Era noite de lua cheia.
Encontrávamos o caminho de volta.
Agora envoltas num processo de cicatrização, descobrimos o esquecido, o enterrado. O processo é gradual, porém a alegria do nosso pertencimento é o remédio salutar para o coração de cada uma de nós.
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marulho