Pular para o conteúdo principal

HISTÓRIA: Breve história da roupa durante os séculos - Parte III


Até então o vestuário na Europa desde o final da Antiguidade havia vestido homens e mulheres com vestimentas similares e que se assemelhavam a sacos curvilíneos sem costuras.

Figura 4

Desenho de estátuas romanas, in Vauther e Lacour, Monuments de sculptures antiques et modernes, Paris, 1839.

Na Idade Média, especialmente o vestuário do homem ganha formas e ajustes. As vestes masculinas vão remeter aos cavaleiros, e as mulheres se apropriam de vestidos que cobrem todo o seu corpo.

Figura 5

Rubens e sua esposa Isabella Brant, 1610, Peter Paul Rubens. Munique, Alte Pinakothek

No Século XVI, a arte presente em diversos meios ganha espaço na moda. Ela começou a operar simbólica e alusivamente por meio de formas e ornamentos variáveis usando suas próprias formas aplicadas e sugestivas em contraponto dinâmico aos contornos reais dos corpos.

Anne Hollander destaca:

Simultaneamente e em harmonia com outras artes visuais, o vestuário veio para propor um programa ilusionista e tridimensional paro o corpo vestido, um nome meio ficcional, uma forma poética, algo que carrega consigo verdades imaginadas que têm o status adicional de fatos relatados, um drama que se vale de atores vivos (...). As pessoas tornaram – se figuras e personagens, e não apenas membros de grupos. A moda inventou um vocabulário visual poético para demonstrar, mesmo de modo inconsciente, os temas sobrepostos e simultâneos de temporalidade e contingência, ou de localização social e personalidade (...)[1]

A moda também aliada à arte ao criar esse vocabulário visual poético, remeteu à memória de passagens históricas.

Maquiavel (...) tinha o hábito de usar toga, quando redigia suas sobras políticas – históricas, pois o inspirava o “modelo” republicano de Roma.[2]

No século XVII, o costume de moda para ambos os sexos era despistador e móvel, parte dele eram enfunadas, arrastavam-se pelo chão ou oscilavam, ou eram elaboradamente embelezados para desviar a atenção do corpo real e dirigia-la a todas as possibilidades fantasiosas.

No vestuário masculino mesmo que a moda pudesse ser justa ou pesada, incomoda ou elaborada, as formas do vestuário masculino continuaram sempre a levar em conta as articulações do corpo, a demonstrar a existência do tronco, do pescoço e da cabeleira, de pernas móveis, pés e braços, e algumas vezes dos órgãos genitais – enquanto as formas do vestuário feminino não faziam isto. A verdadeira estrutura do corpo feminino eram sempre visualmente confusa e não explicada pela moda. A moda feminina prosseguiu na velha insistência de esconder o corpo feminino, valendo-se agora dos meios oferecidos pelo despistamento imaginativo e pela ilusão.

Essa velha insistência estava associada a idéia de que as mulheres eram as “guardiãs” da tradição religiosa e civil, e no momento que queriam mostrar mais o corpo, poderiam cometer uma blasfêmia profunda.


[1] HOLLANDER, Anne. O sexo e as roupas: a evolução do traje moderno. Rio de Janeiro:Rocco, 1996, p. 48 - 49

[2] AIRES, Philippe. DUBY, Georges (org). História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras. 1990-1991. Vol. 3, p.232

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Trilha Sonora "Frida"

Além da história de vida e da encantadora fotografia, o que chama também a atenção no filme Frida (2002) é a profunda e provocante trilha sonora. Composto por Elliot Goldenthal (também responsável pela trilha sonora original de Across the Universe – 2007), o conjunto de canções nos leva para as características do México através de instrumentos regionais, bem como para o universo de Frida, marcado pela sua coragem na luta contra seus problemas físicos, seu amor por Diego Rivera e a paixão que tinha em simplesmente viver. Chavela Vargas e Lila Downs são alguns dos nomes que interpretam as canções. Chavela Vargas, que teve um caso amoroso com a própria Frida, canta seus grandes clássicos La Llorona e Paloma negra . Já Lilá Dows, cantora mexicana conhecida também pelas suas críticas ao imperialismo estadunidense, é responsável pelas gravações de Estrella Oscura e Alcoba Azul . Em Burn It Blue canta junto do eterno tropicalista Caetavo Veloso. E atriz intérprete da pintora Salma Haye

Por que talvez essa carta não foi escrita por Frida Kahlo

Escrevo acá sobre a suposta carta de Frida Kahlo que viralizou na última semana e por que suspeito que esse escrito não seja seu. A imagem e parte do texto está na terceira pessoa, pois o texto foi escrito pro instagram do trabalho que divido com minha irmã. Vamos lá! Primeiramente falaremos das referências bibliográficas e num segundo momento dos escritos de Frida Kahlo sobre Diego Rivera nos últimos 10 anos da sua vida. Não vamos nos deter ao relacionamento dos dois no primeiro casamento (eles se casaram duas vezes), para mantermos o foco dessa possível carta, uma vez que foi escrita supostamente em 1953. QUANTO ÀS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS O trecho dessa suposta carta costa em dois livros: “ Frida Kahlo: La artista que convirtió su obra en icono de la lucha femenina”, de 2019, de Ariadna Castellarnau   e “Cartas Extraordinárias - Amor”, de Shaun Usher , de 2020. O primeiro livro parece ser uma bibliografia mais romantizada e o segundo um compilado de cartas de dive

Frida Kahlo e seu traje: “Ela estava pintando um quadro completo, com cores e formas”

Recordar Magdalena Carmen Frida Khalo y Calderon Rivera é recordar também da sua identidade visual, tão chamativa nas cores e formas aos olhos observadores, como descreve Lucile Blanch na frase acima. A pintora mexicana ao longo da sua vida adotou um traje que a tornou uma mulher espirituosa e extravagante, além de fortalecer sua adesão ao momento cultural que tomou conta de artistas do país na década de 20: retorno à arte mexicana, baseada especialmente nas raízes indígenas. O traje é originário das mulheres do istmo de Tehuantepec (Oaxaca, México), e compreende essencialmente a blusa bordada e a saia comprida. Segundo a história do istmo, as mulheres de Tehuantepec são conhecidas como imponentes, sensuais, inteligentes, corajosas e fortes. Vivem também em uma sociedade matriarcal, onde dirigem, por exemplo, o mercado local. Para Frida, o traje  tehuana tornou-se um elemento tão essencial da sua pessoa, que o pintou sozinho, sem seu corpo, por diversas vezes, como no intrigante q