Para compreender a hegemonia e a influencia da França e da Inglaterra nos trajes europeus durante o século XVII, é necessário estudar as figuras do rei francês Luis XVI e do rei inglês Carlos II, ambos considerados extravagantes, nos seus modos de se vestir.
Carlos II, rei da Inglaterra durante os anos de 1660 e 1685, tem seu nome associado a uma “reforma” nas roupas, embora durante o reinado, importantes acontecimentos marcaram a capital inglesa, como um forte peste. O rei em 1666 tomou uma iniciativa que foi comentado nos maiores jornais da época, como no Diurnal, de 11 de outubro de 1666:
Este mês sua majestade e toda a corte mudaram a moda de suas roupas, a saber, de um casaco justo de pano recortado, com um tafetá branco sob os recortes. Seu comprimento vai até a barriga da perna, e sobre ele, uma túnica aberta no peito, solta e quinze centímetros mais curta. Os calções com corte espanhol e botas, algumas de pano outras de couro, porém da mesma cor que a veste ou traje.[1]
O Diário de Evelyn sob a data do dia 18 de outubro afirma:
Para a corte, sendo esta a primeira vez que sua majestade adotou solenemente a maneira oriental de vestir, mudando de gibão, gola dura, amarras e capa para uma roupa graciosa à moda persa, passando de cintas ou tiras e sapatos amarrados e ligas para fivelas, algumas das quais adornadas com pedras preciosas, estando decidido a não alterá-la, abandonando a moda francesa, que era o costume até agora, com grande despesa e reprovação. Diante disso, vários cortesões e cavalheiros deram ouro a sua majestade apostando que ele não persistia nessa resolução.[2]
Traje de casamento de Sir Thomas Isham, c. 1681. Londres, Victoria and Albert Museum.
Essa atitude inovadora do rei foi considerada com uma tentativa deliberada de se libertar da moda francesa, que até então influenciava a Inglaterra. O Rei Luis XIV, insatisfeito com Carlos II, considerou a atitude como a maior indignidade já feita por um príncipe a outro, e imediatamente no outro dia ordenou que seus nobres e criados usassem as mesmas túnicas.
O comportamento de Luis XIV, também chamada de “Rei Sol”, em relação ao rei inglês, é de descontentamento, pois ele na época estava empenhado em tornar a França o árbitro da Europa, não só politicamente como em questões de gosto. Assim ostentar o luxo através dos trajes era uma forma de mostrar poder.
Luis XIV soube utilizar muito bem esse poder do luxo para influenciar outros países. A criação da corte francesa era desejada e disseminada por toda a Europa. Outro meio foi a criação de um dos primeiros jornais de moda, o Mercure Galant pelo primeiro – ministro Jean – Baptiste Colbert. O jornal trazia informações das roupas francesas e ainda institui o conceito de rotatividade de coleções por estações. Colbert também foi responsável por uma indústria de renda fina Point de France. O rei francês, inclusive, decretou que somente os produtos da sua indústria deveriam ser usados na corte.
Tanto Carlos II, quanto Luis XIV, ao introduzirem a túnica “persa”, com botões que se ajuntavam ao corpo, foram responsáveis pelos primeiros anos do traje moderno casaco-calça que vive até os dias de hoje.
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